sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A Unidade dos Cristãos



Entramos agora naquilo que se designa como "semana do oitavário" ou "semana de oração pela unidade dos cristãos". Tradicionalmente esta semana, promovida pelo Conselho Mundial de Igrejas, começa no dia 18 de Janeiro, em que se celebra a Festa de S. Pedro, e termina no dia 25 de Janeiro, com a Festa de S. Paulo.

Meditar sobre este período enche-me de sentimentos e pensamentos contraditórios. Vou alternando entre a alegria e a tristeza, a esperança e a frustração, o optimismo e o pessimismo e acabo por desembocar no pragmatismo. Sinto-me levado a fazer uma análise superficial daquilo que tem sido o Ecumenismo (cristão).

Longe vão os dias do Concílio Vaticano I decorrido em Roma entre os anos de 1869 e 1870 e que proclamou o Primado do Papa e a infalibilidade deste quando se pronunciasse ex-cathedra em assuntos de fé e moral, o que fechou mais a Igreja de Roma sobre si própria e a fechou ao mundo e às outras Igrejas. Na minha perspectiva, o primeiro Concílio do Vaticano não deixa de ser o canto do cisne de uma perspectiva bacoca e decadente do Cristianismo e uma tentativa desesperada da Igreja de recuperar influência temporal (no mundo, portanto) que provavelmente nunca mais terá. Deste concílio surgiu mais um cisma, que ainda hoje se mantém, com o aparecimento dos velho-católicos (fieis a Utrech) e de algumas Igrejas "nacionalistas", como é o caso em Portugal da Igreja Lusitana. Se o Concílio de Trento foi o toque a reunir de Roma em reacção à Reforma Protestante e uma forma de disciplinar, purificar e tornar mais eficaz uma instituição cheia de tensões internas que corria o risco de se desagregar, o Concílio Vaticano I não foi mais do que a entronização de uma visão passadista e saudosista de ser Igreja. Será muito por isto, mas também pelo concílio que se lhe seguiu, que hoje pouco se fala sobre este "episódio" romano.

Mas no século XX, de forma surpreendente e manifestando sensibilidade ao mover do Espírito Santo, o Papa João XXIII convoca um novo concílio que se iniciará formalmente em 1962 e que será encerrado pelo seu sucessor, o Papa Paulo VI, em finais de 1965. Comparar o Vaticano I e o Vaticano II é -passo o exagero - comparar trevas com a luz, decadência com progresso, Idade Média com o Renascimento. O golpe que o Vaticano I infligiu no Ecumenismo (conceito nesse tempo inexistente) veio a ser amplamente compensado (e diria que sarado) pelo Vaticano II. Portanto, o panorama ecuménico começou a mudar extraordinariamente a partir de 1965 e teve um sinal marcante que foi o levamento mútuo da excomunhão entre Roma e Constantinopla que durava há 900 anos... As janelas que João XXIII abriu fizeram com que um vendaval atravessasse Roma e, volvidos sessenta anos, ainda há alguns papeis que esvoaçam e teimam em encontrar o seu lugar em cima da secretária. O Concílio "ainda mexe", o que demonstra a sua vitalidade, e ainda falta viver e aplicar plenamente os seus princípios. O clima de suspeita e de animosidade que presidiam ao relacionamento entre Roma e os "outros" praticamente desapareceu e muito trabalho teológico tem sido feito que demonstra o imenso património religioso que partilham e que professam os filhos desavindos do Pai celestial.

Desde há vários anos que se realiza a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. O facto de cristãos de diferentes denominações poderem durante uma hora rezar juntos e estarem lado a lado a pedir ao seu Deus, por intermédio de Cristo, pela sua unidade, é bom. Mas é insuficiente. Em Portugal, o Ecumenismo não é muito mais do que isto. Entre uma e outra iniciativa isolada a nível local, as Igrejas encontram-se em Janeiro mais por imposição da tradição, mais porque "tem que se fazer", mais "para fotografia" e porque "fica bem" do que por um impulso genuíno e arrebatador de quererem sanar as suas feridas e divergências. Dizia-me um pastor de uma igreja reformada que a dinâmica e os papeis que cada líder religioso desempenha nas reuniões ecuménicas de oração são definidos poucos minutos antes da cerimónia começar, o que diz muito da desorganização e da falta de empenho em fazer destes momentos raros momentos marcantes e desafiantes. 

Em contraponto, são os jovens que vão dando sinais de esperança e de querem ultrapassar as barreiras denominacionais existentes. Refiro-me nomeadamente às reuniões de Taizé que se vão realizando um pouco por todo o país. São estes mesmos jovens, portugueses, que no ano passado se dirigiram a França constituindo o belo número de 750 pessoas, para participarem com mais 5000 jovens na vida da Comunidade Ecuménica de Taizé. Taizé é exemplo de convivência ecuménica, é um sinal profético para a Igreja de Cristo e é um farol que esparge a luz em meio às trevas da indefinição e do comodismo religioso.

Outro bom exemplo de ecumenismo tem sido o relacionamento de cooperação entre a Igreja Católica Apostólica Carismática e a Igreja da Escócia. A Igreja da Escócia abriu no ano passado o seu templo para que a Igreja Carismática o pudesse usar de forma regular e foram já celebrados cultos conjuntos, em que houve concelebração e consagração do Corpo e Sangue de Cristo. Mais especificamente eu fui convidado para pregar no culto escocês da manhã em Inglês e o Pastor escocês pregou em Português à tarde no culto  carismático da tarde. A cooperação chegou a ser vista de forma muito prática ao me ser pedido que prestasse apoio pastoral à família de um membro da Igreja da Escócia e que presidisse ao seu funeral  devido ao impedimento momentâneo do seu pastor. O mesmo espírito se vê, sempre que a necessidade surge, quando os respectivos ministros da Igreja da Escócia e da Igreja de Inglaterra na área de Lisboa se apoiam mutuamente nos seus impedimentos, mesmo sendo de Igrejas distintas.

Não podendo, portanto, demonstrar um espírito muito esfuziante relativamente ao Ecumenismo em Portugal, ainda assim, porque creio nas Escrituras e confio em Quem inspirou as Escrituras, aguardo o cumprimento da oração que Jesus faz ao Pai: "Que eles sejam um como Eu e Tu somos um!" Sei que o Pai sempre escuta as orações dos Seus filhos e ainda mais escutará e levará ao cumprimento o pedido do Seu Filho Único, nosso Advogado junto do "Pai das luzes". Deus é fiel e cumprirá a Sua promessa e o Seu plano.

Sem comentários:

Enviar um comentário