segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Um Tiro no Pé

Os Estados Unidos da América são um manancial de surpresas, umas vezes pelos melhores motivos, outras vezes pelos piores. Desta vez aquilo que me chamou a atenção vindo da terra do Tio Sam foi uma decisão de um tribunal sobre um caso de possível negligência médica. Até aqui, apesar do triste que é qualquer negligência, nada que chame muito a atenção... Sucede que a alegada negligência médica foi cometida num hospital católico romano. Bom, erros todos cometem. É verdade. Mas o interessante da questão, no meu ponto de vista, não é o erro médico. É a defesa jurídica que o hospital montou para contrapor ao processo de indemnização. 

Para contextualizar: O Hospital St Thomas More no Colorado, gerido pela Catholic Health Initiatives, foi acusado de negligência após a realização de uma cesariana da qual resultou a morte de dois fetos (gémeos) e de, por consequência, ter morto duas pessoas numa gestação de 38 semanas. O hospital, através dos seus advogados, invocou a Lei do Estado do Colorado e defendeu que não havia morte de pessoas porque a mesma Lei apenas confere personalidade jurídica após o nascimento. A decisão do tribunal acabou por ser favorável ao hospital. 

Não pretendo analisar a justeza da Lei americana (da qual discordo). O que me parece censurável e completamente ao arrepio daquilo que tem sido a posição da Igreja de Roma é o argumento usado pelo hospital católico de que não estariamos perante a morte de pessoas... 

Relembro aquilo que diz o Catecismo da Igreja Católica (Romana):

"A vida humana deve ser respeitada e protegida, de modo absoluto, a partir do momento da concepção. Desde o primeiro momento da sua existência, devem ser reconhecidos a todo o ser humano os direitos da pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo o ser inocente à vida." (nmr 2270)

"Uma vez que deve ser tratado como pessoa desde a concepção, o embrião terá de ser defendido na sua integridade, tratado e curado, na medida do possível, como qualquer outro ser humano." (nmr 2274)

Esta decisão jurídica vem manchar a coerência da defesa intransigente de Roma em relação à vida humana e vem reavivar o debate entre os partidários pró-vida e pró-escolha, poucas horas depois da realização da Marcha Pró-Vida em Washington que reuniu cerca de 600000 pessoas de diversos quadrantes religiosos. É um tiro no pé nos Estados Unidos que se repercute em Roma.

Em conclusão, a doutrina proclama  a defesa do embrião como pessoa que é mas, quando chega a altura de assumir responsabilidades morais e financeiras, a doutrina é convenientemente esquecida e invoca-se uma lei civil que é contrária à doutrina e à lei da Igreja. Estranho, não?


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

El Amor Incondicional - Indios Hopi



"Eres único, diferente de todos los otros.
Sin reserva ni duda, permito que estés en el mundo como eres, sin un pensamiento o palabra de juicio…
No veo error alguno en las cosas que puedas decir, ni hacer, sentir y creer porque entiendo que te estás honrando a ti mismo al ser y hacer lo que es verdad para ti.
No puedo recorrer la vida con tus ojos ni verla a través de tu corazón.
No he estado donde tu has estado ni experimentado lo que has experimentado, viendo la vida desde tu perspectiva única.
Te aprecio exactamente como eres, siendo tu propia y singular chispa de la Conciencia Infinita, buscando encontrar tu propia forma individual de relacionarte con el mundo.
Sin reserva ni duda, te permito cada elección para que aprendas de la forma que te parezca apropiada.
Es vital que seas tu propia persona y no alguien que yo u otros piensen que “deberías” ser.
En la medida de mi capacidad, sin denigrarme o ponerme en un compromiso, te apoyaré en eso.
No puedo saber lo que es lo mejor para ti, lo que es verdad para ti o lo que necesitas, porque no sé lo que has elegido aprender, cómo has elegido aprenderlo, con quien o en qué periodo de tiempo.
Sólo tu puedes sentir tu excitación interna y escuchar tu voz interna, yo sólo tengo la mía.
Reconozco que, aunque sean diferentes entre si, todas las maneras de percibir y experimentar las diferentes facetas de nuestro mundo, todas son válidas.
Sin reserva ni duda admito las elecciones que hagas en cada momento.
No emito juicio sobre esto porque es imprescindible que honre tu derecho a tu evolución individual, porque esto da poder a ese derecho para mí y para todos los otros.
A aquellos que elegirían un camino que no puedo andar o que no andaría, y aunque puede que elija no añadir mi poder y mi energía a ese camino, nunca te negaré el regalo de amor que Dios me ha concedido para toda la creación.
Como te amo, así seré amado.
Así como siembro, recogeré.
Sin reserva ni duda, te permito el derecho universal de libre albedrío para andar tu propio camino, creando etapas o manteniéndote quieto cuando sientas que es apropiado para ti.
No puedo ver siempre el cuadro más grande del Orden Divino y así no emitiré juicio sobre si tus pasos son grandes o pequeños, ligeros o pesados o conduzcan hacia arriba o hacia abajo, porque esto sólo sería mi punto de vista.
Aunque vea que no haces nada y juzgue que esto es indigno, yo reconozco que puede que seas el que traiga una gran sanación al permanecer en calma, bendecido por la Luz de Dios.
Porque es el derecho inalienable de toda vida el elegir su propia evolución, y sin reserva ni duda reconozco tu derecho a determinar tu propio futuro.
Con humildad, me postro ante la comprensión de que el camino que veo es mejor para mi no significa que sea también correcto para ti, que lo que yo creo no es necesariamente verdad para ti.
Sé que eres guiado como yo lo soy, siguiendo tu entusiasmo interno por conocer tu propio camino.
Sé que las muchas razas, religiones, costumbres, nacionalidades y creencias en nuestro mundo nos traen una gran riqueza y nos procuran los beneficios y enseñanzas de tal diversidad.
Sé que cada uno de nosotros aprende en nuestra manera única para devolver ese amor y sabiduría al TODO.
Entiendo que si sólo hubiese una forma de hacer algo, sólo necesitaría haber una persona.
Apreciaré tu luz interna única te comportes o no dé la manera en la que considero que deberías, aunque creas en cosas que yo no creo.
Entiendo que eres verdaderamente mi hermano y mi hermana, aunque puede que hayas nacido en un lugar diferente y creas en diferentes ideales.

El amor que siento es por absolutamente todo lo que ES."

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A Unidade dos Cristãos



Entramos agora naquilo que se designa como "semana do oitavário" ou "semana de oração pela unidade dos cristãos". Tradicionalmente esta semana, promovida pelo Conselho Mundial de Igrejas, começa no dia 18 de Janeiro, em que se celebra a Festa de S. Pedro, e termina no dia 25 de Janeiro, com a Festa de S. Paulo.

Meditar sobre este período enche-me de sentimentos e pensamentos contraditórios. Vou alternando entre a alegria e a tristeza, a esperança e a frustração, o optimismo e o pessimismo e acabo por desembocar no pragmatismo. Sinto-me levado a fazer uma análise superficial daquilo que tem sido o Ecumenismo (cristão).

Longe vão os dias do Concílio Vaticano I decorrido em Roma entre os anos de 1869 e 1870 e que proclamou o Primado do Papa e a infalibilidade deste quando se pronunciasse ex-cathedra em assuntos de fé e moral, o que fechou mais a Igreja de Roma sobre si própria e a fechou ao mundo e às outras Igrejas. Na minha perspectiva, o primeiro Concílio do Vaticano não deixa de ser o canto do cisne de uma perspectiva bacoca e decadente do Cristianismo e uma tentativa desesperada da Igreja de recuperar influência temporal (no mundo, portanto) que provavelmente nunca mais terá. Deste concílio surgiu mais um cisma, que ainda hoje se mantém, com o aparecimento dos velho-católicos (fieis a Utrech) e de algumas Igrejas "nacionalistas", como é o caso em Portugal da Igreja Lusitana. Se o Concílio de Trento foi o toque a reunir de Roma em reacção à Reforma Protestante e uma forma de disciplinar, purificar e tornar mais eficaz uma instituição cheia de tensões internas que corria o risco de se desagregar, o Concílio Vaticano I não foi mais do que a entronização de uma visão passadista e saudosista de ser Igreja. Será muito por isto, mas também pelo concílio que se lhe seguiu, que hoje pouco se fala sobre este "episódio" romano.

Mas no século XX, de forma surpreendente e manifestando sensibilidade ao mover do Espírito Santo, o Papa João XXIII convoca um novo concílio que se iniciará formalmente em 1962 e que será encerrado pelo seu sucessor, o Papa Paulo VI, em finais de 1965. Comparar o Vaticano I e o Vaticano II é -passo o exagero - comparar trevas com a luz, decadência com progresso, Idade Média com o Renascimento. O golpe que o Vaticano I infligiu no Ecumenismo (conceito nesse tempo inexistente) veio a ser amplamente compensado (e diria que sarado) pelo Vaticano II. Portanto, o panorama ecuménico começou a mudar extraordinariamente a partir de 1965 e teve um sinal marcante que foi o levamento mútuo da excomunhão entre Roma e Constantinopla que durava há 900 anos... As janelas que João XXIII abriu fizeram com que um vendaval atravessasse Roma e, volvidos sessenta anos, ainda há alguns papeis que esvoaçam e teimam em encontrar o seu lugar em cima da secretária. O Concílio "ainda mexe", o que demonstra a sua vitalidade, e ainda falta viver e aplicar plenamente os seus princípios. O clima de suspeita e de animosidade que presidiam ao relacionamento entre Roma e os "outros" praticamente desapareceu e muito trabalho teológico tem sido feito que demonstra o imenso património religioso que partilham e que professam os filhos desavindos do Pai celestial.

Desde há vários anos que se realiza a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. O facto de cristãos de diferentes denominações poderem durante uma hora rezar juntos e estarem lado a lado a pedir ao seu Deus, por intermédio de Cristo, pela sua unidade, é bom. Mas é insuficiente. Em Portugal, o Ecumenismo não é muito mais do que isto. Entre uma e outra iniciativa isolada a nível local, as Igrejas encontram-se em Janeiro mais por imposição da tradição, mais porque "tem que se fazer", mais "para fotografia" e porque "fica bem" do que por um impulso genuíno e arrebatador de quererem sanar as suas feridas e divergências. Dizia-me um pastor de uma igreja reformada que a dinâmica e os papeis que cada líder religioso desempenha nas reuniões ecuménicas de oração são definidos poucos minutos antes da cerimónia começar, o que diz muito da desorganização e da falta de empenho em fazer destes momentos raros momentos marcantes e desafiantes. 

Em contraponto, são os jovens que vão dando sinais de esperança e de querem ultrapassar as barreiras denominacionais existentes. Refiro-me nomeadamente às reuniões de Taizé que se vão realizando um pouco por todo o país. São estes mesmos jovens, portugueses, que no ano passado se dirigiram a França constituindo o belo número de 750 pessoas, para participarem com mais 5000 jovens na vida da Comunidade Ecuménica de Taizé. Taizé é exemplo de convivência ecuménica, é um sinal profético para a Igreja de Cristo e é um farol que esparge a luz em meio às trevas da indefinição e do comodismo religioso.

Outro bom exemplo de ecumenismo tem sido o relacionamento de cooperação entre a Igreja Católica Apostólica Carismática e a Igreja da Escócia. A Igreja da Escócia abriu no ano passado o seu templo para que a Igreja Carismática o pudesse usar de forma regular e foram já celebrados cultos conjuntos, em que houve concelebração e consagração do Corpo e Sangue de Cristo. Mais especificamente eu fui convidado para pregar no culto escocês da manhã em Inglês e o Pastor escocês pregou em Português à tarde no culto  carismático da tarde. A cooperação chegou a ser vista de forma muito prática ao me ser pedido que prestasse apoio pastoral à família de um membro da Igreja da Escócia e que presidisse ao seu funeral  devido ao impedimento momentâneo do seu pastor. O mesmo espírito se vê, sempre que a necessidade surge, quando os respectivos ministros da Igreja da Escócia e da Igreja de Inglaterra na área de Lisboa se apoiam mutuamente nos seus impedimentos, mesmo sendo de Igrejas distintas.

Não podendo, portanto, demonstrar um espírito muito esfuziante relativamente ao Ecumenismo em Portugal, ainda assim, porque creio nas Escrituras e confio em Quem inspirou as Escrituras, aguardo o cumprimento da oração que Jesus faz ao Pai: "Que eles sejam um como Eu e Tu somos um!" Sei que o Pai sempre escuta as orações dos Seus filhos e ainda mais escutará e levará ao cumprimento o pedido do Seu Filho Único, nosso Advogado junto do "Pai das luzes". Deus é fiel e cumprirá a Sua promessa e o Seu plano.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Pit Bull e a Criança


Pit Bull ataca bebé em Beja
Uma das vítimas da polémica em torno do abate do cão arraçado de pit bull que vitimou mortalmente há poucos dias uma criança, é o respeitadíssimo actor Ruy de Carvalho que, por ter partilhado a opinião de que o referido cão não deveria ser abatido, perdeu a consideração de alguns dos seus "seguidores".

Ruy de Carvalho é um ícone da excelência; é, a par da sua colega Eunice Muñoz, o expoente máximo vivo da arte de bem representar. E, portanto, não vejo porque uma opinião mais ou menos emocionada sobre o destino a dar a um cão possa manchar ou denegrir a sua pessoa.

Mas a questão que me leva a escrever é mais opinar sobre se o cão deve ser abatido ou não e se é correcto fazê-lo. Estaremos todos de acordo que abater um animal sem mais é algo reprovável e que contradiz a dignidade e compaixão que devem presidir ao comportamento do ser-humano. Outra coisa é saber se este animal em particular representa ou não um perigo. Sendo o caso, não podendo o cão ser confinado a um espaço apropriado até ao fim natural da sua vida (pelos custos que isso implica), então, mediante prévia avaliação feita por técnicos competentes, deve ser posto termo à sua vida.

A reprovação de muita gente em relação ao abate do animal não deixa de parecer estranha e desproporcionada face ao que sucedeu: a morte de uma criança, a morte de uma pessoa. Será que essa reprovação também é feita sobre situações em que a dignidade do ser-humano é posta em causa, será que essa indignação também é sentida perante os milhares de vidas humanas que são ceifados todos os dias em conflitos políticos, religiosos e económicos absurdos? Chora-se um cão e não se chora aquelas pessoas que expiram em campos de refugiados porque a ajuda da comunidade internacional é insuficiente? Lamenta-se a sorte do animal mas desvia-se o olhar daquele que, tornado cão, vasculha nos nossos dejectos e busca um pouco de comida ou algo que possa aproveitar para se poder manter vivo mais um dia.

O clamor pelo cão não deixa de ser também uma manifestação de sentimentalismo inconsequente e impensado de quem defende os direitos dos animais e se esquece dos direitos das pessoas. Há que dizer que, à luz da Lei portuguesa, por maior carinho que possamos ter por um animal e por mais inteligente que o mesmo possa ser, ele não é uma pessoa; é uma coisa. E as coisas não são titulares de direitos; estão é apenas envolvidas nas relações jurídicas que se estabelecem entre as pessoas. Portanto, um cão não é titular de direitos mas o Direito incide sobre ele sempre em função de uma pessoa e no sentido de promover o bem-estar e a harmonia sociais entre pessoas.

E isto leva a discutir o seguinte: o relativismo vigente tende a equiparar animal e pessoa. Ou seja, segundo esta visão, seres-humanos e animais teriam em si a mesma dignidade e ambos teriam direito à vida. Isto é lavrar num erro crasso. Parece-me que mais do que estar a elevar o animal à condição de pessoa, se está a pôr em causa a dignidade da pessoa e se está a rebaixá-la, colocando-a ao nível do animal. Lembremos que as pessoas não foram criadas em função dos animais mas estes foram criados em função das pessoas. Começando a sociedade a considerar a pessoa humana menos do que aquilo que ela é, corremos o risco de pôr em causa a própria vida humana. Se a pessoa humana não é tão importante e tão digna como pensamos, então abrem-se as portas a que a sociedade se vá livrando daqueles que considera incómodos, inconvenientes ou dispensáveis. Nenhum ser-humano é dispensável. Infelizmente vão nesse sentido práticas como o aborto, a eutanásia e a manipulação genética. Relembrando um princípio bíblico fundamental, a Humanidade foi colocada por Deus na terra como culminar da Criação e para exercer o seu domínio (com responsabilidade e bom-senso obviamente) sobre a Criação e não o contrário. O Homem não é um mero acidente biológico e não é apenas mais um animal entre outros. É um ser com uma dignidade própria decorrente de albergar em si um sopro divino, um espírito, que o distingue de todos os outros seres.

Estarei eu a dizer que sendo o Homem o pináculo da Criação, que este pode fazer aquilo que muito bem entende da Criação? O domínio (ou seja, o senhorio) do Homem deve e tem que ser exercido com responsabilidade e com respeito para com as outras criaturas porque estas de alguma forma também reflectem o dedo criador de Deus. Quanto mais compaixão e respeito o Homem demonstrar pelos animais sem os subjugar mas aproveitando-se deles para seu benefício e sem pôr em causa o equilíbrio do ecossistema em que se insere, mais o Homem demonstra a sua condição de ser superior, mais o Homem demonstra a sua condição de pessoa.