quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A Sociedade Aguenta?

Sua Eminência Reverendíssima, o Senhor Cardeal-patriarca Dom José Policarpo, figura mais conhecida da Igreja romana em Portugal, concedeu uma entrevista à RTP na qual disse, citando o DN, que "A sociedade aguenta tudo. Esperamos que as linhas de conduta sejam realistas, mas prudentes. Não se deve usar o poder para fazer aquilo que não é preciso ser feito". Mais à frente disse também que seria necessária uma "revolução cultural" para melhorar a sociedade.

Para aqueles que possam estar mais desatentos, o que este Eminente homem disse, não por palavras mas no seu inconsciente, é que ele espera que os portugueses e os restantes povos sujeitos à ditadura da austeridade e ao império da alta finança e dos interesses económicos continuem a aguentar para que o statu quo se mantenha. Para quê? Para que os diversos e obscuros interesses da Igreja não sejam postos em causa e tudo continue exactamente como até agora, num passivismo cinzento e num carneirismo apático que não questiona, não reivindica nem se insurge com toda a força contra a opressão. A Igreja de Roma, seja em Portugal, seja no Vaticano, é aliada dessa mesma opressão e fará tudo o que estiver ao seu alcance para que o seu lugar à mesa dos poderosos não seja questionado.

Mais adiante na entrevista diz que a Igreja "tem de estar presente, atenta a quem sofre", oferecendo "amor, verdade e fé." São belas palavras, capazes de albergar em si todo o Universo, mas que na prática não se consubstanciam nem trazem nada de concreto a aqueles que sofrem. Palavras tão belas quanto vazias de sentido, palavras tão belas quanto desprovidas de acção libertadora. É certo que a Igreja de Roma em Portugal, através das diversas instituições que patrocina e inspira, é o maior prestador de cuidados sociais à população e que, por ela, muita fome e miséria é mitigada. Mas até que ponto está a Igreja interessada em adoptar uma atitude de ruptura, de denúncia e de confronto com os poderes instituídos? Não está de modo nenhum. Até que ponto é conveniente que a Igreja eduque e forme crentes conscientes de todo o seu potencial libertário, crentes que encarnam a frase do Verbo feito homem: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"? A prática assistencialista da Igreja minora o sofrimento mas não contribui para a sua erradicação. O discurso de que "a sociedade aguenta tudo" vem na mesma linha da expressão infeliz do Senhor Ulrich do "aguenta, ai aguenta". Parece que o Senhor Patriarca e o Sumo Pontífice da Igreja de Mamon do BPI frequentaram a mesma escola e que, portanto adoram, prestam culto e vassalagem ao mesmo deus (mesmo que digam que este tem nomes diferentes). 

 Portanto, aquilo que a Igreja Romana faz é colocar-se ao lado dos lobos em vez de se colocar ao lado das ovelhas que, uma a uma, vão sendo levadas ao matadouro. A Igreja anestesia os seus fieis com o ópio da esperança para que estes não se insurjam de forma incontrolável contra este sistema satânico e alienante que pretende transformar cada filho e filha de Deus num pião e num objecto.


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