
Os recentes ecos de Roma, apesar de preocupantes
e chocantes, infelizmente não são inéditos e surgem na sequência de práticas e
comportamentos que desde há várias décadas têm marcado a Igreja Católica
Romana. Pedofilia, homossexualidade, extorsão, lobbies e outros fenómenos que
tais estão agora “na moda” mas sempre permearam uma das mais velhas
organizações do mundo. Ainda assim, o cristão e o cidadão consciente não podem
deixar de lamentar tudo o que ultimamente tem vertido da Cidade que de
celestial já só tem o nome: a incapacidade do Papa de erradicar os males que
minam a Igreja e que o levam a renunciar, o chamamento à Cúria do mais provável
sucessor do Patriarca de Lisboa após denúncias feitas por um colega, os casos mal
escondidos de homossexualidade e de abuso de poder do clero de Lisboa, a
renúncia do Primaz e Cardeal católico da Escócia por ter sido acusado de
comportamento sexual indigno, o lobby gay, etc. Por tudo isto se vê que a barca
de São Pedro está a meter água e que a sua capacidade de chegar a bom porto
está comprometida.
Na Igreja Romana, à semelhança de qualquer outra
organização onde domine o ego humano, conheci o que há de mais repulsivo e o que
há de mais nobre nas criaturas de Deus. Nela ouvi falar pela primeira vez do
Evangelho de Cristo e fui iniciado na Fé e enxertado na família dos Filhos de
Deus. Nela também conheci lobos que se disfarçavam de ovelhas e ovelhas a
converterem-se em lobos, corrompidas por um sistema que, em vez de libertar,
agrilhoa. Nela conheci exemplos vivos de santidade e de entrega a Deus e nela
enfrentei pessoas que, sem qualquer dúvida, foram instrumentos do Maligno. Nela
encontrei muitos fariseus e alguns bons samaritanos. Nela encontro ainda amigos
e crentes genuinamente empenhados em viver a sua fé em Cristo e não numa
instituição. Perante tudo o que já mencionei pergunto-me como poderá ainda
haver pessoas inteligentes e íntegras que queiram permanecer ligadas a um
organismo parasitado irremediavelmente pelo Inimigo? Como poderá haver alguém
que queira compactuar com algo moribundo, passadista e que se nutre da
boa-vontade dos crentes como um cancro se alimenta de um corpo vivo? Não deixam
de ressoar com muita força as palavras duríssimas de Cristo em relação aos falsos
religiosos:
“Ai de vós, doutores da Lei e fariseus
hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, quando por dentro
estão cheios de rapina e de iniquidade! Fariseu cego! Limpa antes o interior do
copo, para que o exterior também fique limpo. Ai de vós, doutores da Lei e
fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a sepulcros caiados: formosos por
fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de
imundície! Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos
dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. Ai de
vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que edificais sepulcros aos
profetas e adornais os túmulos dos justos, dizendo: ‘Se tivéssemos
vivido no tempo dos nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos
profetas!’ Deste modo, confessais que sois filhos dos que
assassinaram os profetas. Acabai, então, de encher a medida dos
vossos pais! Serpentes! Raça de víboras! Como podereis fugir à condenação da Geena?”
Mateus 23,25-33